quarta-feira, março 16, 2005

A DESILUSÂO





Gosto de ler os artigos de opinião Miguel Sousa Tavares, nem sempre estou de acordo com ele, no entanto ambos somos Portistas e temos assim direiro a manifestar a nossa indignação.

Estou de acordo que estamos a pagar pelos erros de Pinto da Costa e da SAD
Estou de acordo que alguns dos jogadores devem sair do clube ou ir para a equipa B, não serão todos o que ele enumera, mas Pepe, Claudio, Postiga, Fabiano, Areias, Leo Lima e Raul Meireles, são para mim consensuais que devem sair do FCP.

Estou de acordo quando diz que os sócios têm de ser ressarcidos dos prejuizos causados pela SAD e pelo Sr. Pinto da Costa.

Estou contra os empresários que com o fito de amealharem somas astronómicas, mais prejudicam do que beneficiam o FCP

Por último, embora também não podendo para já criticar também as prestações de José Couceiro, lembrar também que temos quadros no FCP, que conhecendo os cantos á casa podem pegar na equipa e quiçá fazer um bom trabalho e como Miguel, eu lembro-me também de Aloisio que já manifestou a vontade de dar o salto, ele sim um elemento a acarinhar e a ajudar, porque estou certo que com a experiência adquirida vai concerteza singrar no mundo do futebol.

Não deixei de me atrever a incluir no meu blog o artigo de MST.



Basta!
Manda a verdade e manda a independência de espírito que se diga que o desastre é, primeiro e quase exclusivamente, um desastre ao nível da gestão, do planeamento e da capacidade de renovação. E, logicamente, os responsáveis não se chamam Del Neri, nem Victor Fernandez, nem José Couceiro: chamam-se Pinto da Costa e SAD


HOJE à noite é preciso que haja um milagre em Milão, mesmo que por directa intervenção divina (e nem se vê como possa ser de outra maneira...). Foi assim com Victor Fernandez, em Novembro passado: quando tudo parecia perdido, o FC Porto foi ganhar a Moscovo ao CSKA e depois conseguiu, com uma segunda parte que foi até agora o melhor momento da época, transformar uma derrota anunciada numa vitória contra o Chelsea de Mourinho, com isso materializando o milagre da passagem aos oitavos-definal da Champions.

Mas agora as coisas são ainda piores e as circunstâncias mais exigentes: exige-se (exigem-no os adeptos) que esta pobre equipa do FC Porto, sombra triste de quem foi campeão europeu há 10 meses atrás, elimine hoje o Inter, em Milão, e na segunda-feira vença o Sporting, em Alvalade. Só essa duas quase impossíveis vitórias fora podem atenuar as consequências e fazer esquecer o sofrimento da continuada vergonha da prestação caseira, bem traduzida no facto de ser a única equipa da SuperLiga, e talvez a única no Mundo, que ainda não conseguiu vencer um jogo em casa em 2005. Em 17 jogos oficiais disputados esta época no Dragão o FC Porto venceu cinco. Como aqui já escrevi várias vezes, nenhum portista poderia legitimamente esperar e exigir este ano a repetição dos dois fabulosos anos anteriores. Mas, entre isso e o desastre total a que vimos assistindo, vai um abismo que deveria ter consequências. E a primeira consequência seria justamente a devolução do preço pago pelos quase 30 mil titulares de lugares cativos no estádio ou a sua renovação grátis para a época seguinte. Os adeptos, que, apesar do interminável pesadelo a que vêm assistindo, continuam a fazer do Dragão o estádio líder das assistências na SuperLiga e nunca faltam com a sua crença e o seu apoio à equipa, têm direito a um gesto efectivo de desculpas. Talvez custe caro mas pelo menos sempre é menos dinheiro disponível para mais loucuras e disparates.

A segunda consequência, que já deveria ter sido efectivada há muito sem olhar às vaidades e teimosias atingidas, é pegar nas supostas vedetas compradas por milhões e pagas sumptuosamente ? Diego, Postiga e Fabiano? e enfiar com elas na equipa B, mesmo com prejuízo da equipa B. E deixá- las por lá a vegetar tempo suficiente até que supliquem a rescisão do contrato. E, mesmo que, a curto prazo, isso custe dinheiro, poupa-se a médio prazo, em ordenados e na nossa paciência. Porque a minha, devo dizê-lo, esgotou-se em relação a estes três: acho-os três casos irrecuperáveis de falta de categoria e brio profissional.

Ficariam ainda por resolver mais uns quantos casos de jogadores que ninguém entende porquê e a benefício de quem foram comprados: Areias, Raul Meireles, Leo Lima ou Leandro (não o do Bonfim, que esse parece bom jogador). Mas vai demorar anos a amortizar os danos da demência e irresponsabilidade das compras desta época ? 17 jogadores, dos quais apenas três são titulares habituais e 10 são brasileiros! Se pensarmos que uma equipa profissional de futebol é normalmente composta por 25 a 30 jogadores, temos a dimensão de uma pequena empresa. Que pequena empresa sobreviveria ao luxo de contratar 17 empregados novos num ano, acabando a tirar partido apenas de três e dando-se até ao luxo de emprestar uns quantos a empresas rivais, ficando a pagar-lhes o ordenado enquanto eles trabalham na concorrência? Só mesmo um clube de futebol habituado a viver na irresponsabilidade financeira.

Por isso mesmo a terceira consequência a tirar era chamar o ou os empresários que este época ganharam milhões no desmantelamento da equipa campeã da Europa e do Mundo, substituindo-a por um charter de pára-quedistas brasileiros, e obrigá-los a devolver o dinheiro ganho com a ruína da equipa, sob pena de não fazerem mais negócios com o FC Porto e não se voltarem a sentar na tribuna de honra do Dragão. Mas já li algures que o sr. Jorge Mendes, sem dor de consciência alguma, se prepara para trazer mais um brasileiro, um tal de Fred, para o FC Porto. E de novo me assaltam as perguntas inocentes: no FC Porto não há prospecção própria de mercados? Só conhecem o mercado brasileiro? Não têm formação e uma equipa B para produzir novos talentos para a equipa principal ? onde estão eles?

Passados que são oito meses de mediocridade competitiva, 14 jogos de frustração caseira (até o Beira-Mar, de Cajuda, conseguiu lá a sua única vitória), batidos todos os registos históricos de humilhação entre portas, experimentados 17 novos jogadores e três treinadores em meia época, manda a verdade e manda a independência de espírito que se diga que o desastre é, primeiro e quase exclusivamente, um desastre ao nível da gestão, do planeamento e da capacidade de renovação. E, logicamente, os responsáveis não se chamam Del Neri, nem Victor Fernandez, nem José Couceiro: chamam-se Pinto da Costa e SAD. Na noite gloriosa de Gelsenkirchen confidenciava- me um membro dos órgãos sociais do FC Porto que estava com medo do futuro próximo. Perguntei-lhe porquê e ele respondeu- me: «Porque vem aí muito dinheiro e, com dinheiro no bolso, eles não se conseguem conter.» Dito e feito, apesar dos avisos que alguns de nós não deixámos de ir fazendo.

Não seria justo nem útil estar agora a incluir José Couceiro no lote dos também responsabilizáveis. Não tem culpa de ter herdado uma equipa onde alguns inamovíveis só servem para atrapalhar, onde há quatro defesas esquerdos e apenas um defesa direito, onde se andou a vender, a dispensar e a emprestar avançados para acabar apenas com um extremo de raiz e um verdadeiro ponta-de-lança, impedindo, por exemplo, que uma equipa oficialmente candidata ao título possa jogar em 4x3x3. Mas a verdade também, e sem culpas próprias, é que não deixa de ser extraordinário que para treinar o campeão da Europa em título baste ter como currículo dois anos de estágio, um bom e um mau, em equipas que lutam pela permanência. José Couceiro pode até vir a revelar-se um excelente treinador, pode demonstrar uma acelerada capacidade para aprender rapidamente, mas não pode ter a maturidade de pegar num campeão europeu em crise e dar-lhe a volta instantaneamente, como que por magia. E dou apenas um exemplo concreto: a desesperada frequência com que o FC Porto inicia os jogos contra equipas que lhe são inferiores em tom de passeio e sem pressas, para logo, na primeira vez que o adversário vem à frente, consentir um golo, é claramente um sinal de imaturidade competitiva, desconcentração e inibição psicológica, que um treinador mais experiente já teria controlado. Essa experiência só se consegue ou com os anos ou com um profundo conhecimento da equipa; é por isso que me custa entender que, sendo capaz de arriscar em Couceiro, a SAD não se tenha lembrado de arriscar antes, e já que estava no ponto de tudo arriscar, em Aloísio, que conhece como poucos os cantos à casa. Dir-me-ão que Mourinho também tinha pouca experiência e também foi um risco que deu certo. Mas Mourinho é um caso à parte, é a excepção que confirma a regra, e, de qualquer forma, como adjunto e brevemente como treinador principal, já tinha passado por vários grandes: Sporting, FC Porto, Barcelona e Benfica, além de ter transformado num ápice o União de Leiria num grande. Pode ser, repito, que Couceiro venha a ser um grande treinador do futebol português mas duvido que este fosse omomento dele no FC Porto. Possa eu enganar-me!

E agora? Agora é ganhar hoje em Milão e segunda-feira em Alvalade. E depois falamos.


Miguel Sousa Tavares Nortada (in A Bola

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